Pega Monstro · Alfarroba · Upset The Rhythm · 2015 As Pega Monstro são Julia e Maria Reis. Confesso que só escutei a sua música com atenção, quando saiu este disco, Alfarroba. Foi uma boa surpresa. Desde logo gostei do nome do disco, alfarroba faz-me lembrar bom tempo, calor, aquele cheiro tão característico traz-me boas lembranças, faz-me lembras os Verões a trabalhar na fábrica de rações. Costumo pensar que as Pega Monstro têm um som que faz lembrar uma mistura muito refinada de The Breeders com Harry Pussy. Alguns temas são mais pop e daí evocar aqui as The Breeders. Lembro-me de Harry Pussy por causa da distorção e da energia, se bem que num concerto podemos sentir esse som trash com mais intensidade. A música das Pega Monstro apresenta-se fresca e solta, rock que nos prende instantaneamente, qual pega monstro sonoro. As letras ultrapassaram de alguma maneira a puerilidade dos discos anteriores. Se havia algum interesse nas estórias sobre apanhar doenças em festivais de Verão porque isso era feito com honestidade, com uma veracidade desarmante, agora as Pega Monstro apresentam músicas com um pendor mais melancólico. As letras sobre desencontros e questões emocionais são mais trabalhadas, a escatologia felizmente continua lá, mas parece mais amargurada e na verdade é em músicas como És tu, já sei e És tudo o que eu queria que podemos encontrar essa melancolia, mas na minha opinião ela vai assombrando o resto do disco, aqui e ali sente-se alguma amargura, tanto nas palavras como em algumas partes do som, que se vai moldando e não é apenas electricidade furiosa. A música às vezes é quase sonegante, mais arrastada, contribuindo para essa espécie de letargia emocional. Se em registos anteriores as Pega monstro apresentavam músicas que destilavam um som punk rápido, a guitarra e os pratos não tinham descanso e cuspiam-nos na cara, neste álbum há mais contrastes, contribuindo essa estrutura do disco para que as músicas mais electrificantes possam amadurecer, tenham um outro peso, e tenham a possibilidade de se tornar mais poderosas, mais exploratórias até, porque há momentos de paragem e esses momentos mais ponderados servem para ensaiarem essa tal viagem melancólica, essa sensação agridoce de travagem que é também de abandono, ma sé um abandono reflectido, é um tempo de necessária introspecção. Ao ler algumas coisas sobre as Pega Monstro na internet, reparei que numa entrevista referiam o disco Black Woman do Sonny Sharrock como uma influência ou pelo menos como um disco a ter em conta no seu percurso, achei curioso, porque ao ler isto, vão se estabelecendo ligações, desenhando constelações improváveis, mas que depois de feitas, acabamos por encontrar sonoridades que se vão aproximando, e isso é uma coisa maravilhosa, não só na música como na vida. Além disto, está aí a sair um disco novo das Pega Monstro. Vamos escutar com certeza!
publicado originalmente no fanzine Cleópatra #10 em Março de 2016
Recorri à internet para recolher informações genéricas e para ouvir músicas mais antigas.
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