sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Hype Williams

Hype Williams,??, ??, LP, ?? Em 2010 fui ver um concerto de um projecto musical formado por um casal inglês (teriam uma relação conjugal?) que vivia em Berlim (ou coisa assim, pouco importa) a um bar de praia. O Bar chamava-se Bambi e ficava na praia de S. Pedro de Moel no concelho da Marinha Grande, este evento foi organizado pelo colectivo a9)))), então em franca expansão. Esse projecto musical chamava-se Hype Williams e eu não estava preparado, não fazia a mínima ideia do que era aquilo. Tocavam sentados frente a frente, na mesa onde estava a maquinaria que fazia o som, queimavam paus de incenso, havia uma foto emoldurada de um desconhecido e caía até ao chão um pano com a imagem impressa de um guia religioso do tipo Rastafari dado a ocultismos. Adorei o concerto, mas não percebi nada do que era aquilo. Comprei logo o disco que entretanto nunca mais vi à venda. Quando o concerto acabou, fui à casa de banho e alguém me disse algo do género: "Isto é o que deveria ter sido o trip-hop". Talvez, pudesse ou devesse ter sido alguma coisa próxima daquilo que tínhamos acabado de ouvir. A música deles é uma fusão de sons hip-hop, soul, pop, excertos de músicas de videojogos e discursos messiânicos e dub, tudo misturado em camadas que se sobrepõem, avançam e retrocedem, aparecem e desaparecem, dando a impressão que estamos numa espécie de alucinação musical desacelerada. Neste disco a desaceleração é quase nauseabunda, lentamente vertiginosa, pontuada por ritmos mais rápidos para que nos mantenhamos conscientes. A música rasteja pelo ar (?) e vai-se acomodando a pouco e pouco dentro de nós. Enfatizando este ocultismo e sentimento de estranhamento (que se entranha, sem dúvida) o disco não tem qualquer palavra impressa, por isso ainda hoje não sei o nome do disco, nem das músicas, nem qual é o lado A ou B (na internet não deve faltar informação, mas prefiro os Hype Williams misteriosos e obscuros). Um disco brutal (literalmente). Ouçam em 33 rotações e depois em 45, dois discos num só.

Originalmente publicado no fanzine Cleópatra #6 em Maio de 2012

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